quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Bibliografia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mesopot%C3%A2mia
http://gastronomiaenegocios.uol.com.br/artigosecolunas_ver.php?idMateria=66
http://www.google.com.br
http://www.uol.com.br
http://www.terra.com.br

Economia e sociedade mesopotâmica: Parte 5

Em linhas gerais pode-se dizer que a forma de produção predominante na Mesopotâmia baseou-se na propriedade coletiva das terras administrada pelos templos e palácios. Os indivíduos só usufruíam da terra enquanto membros dessas comunidades. Acredita-se que quase todos os meios de produção estavam sobre o controle do déspota, personificação do Estado, e dos templos. O templo era o centro que recebia toda a produção, distribuindo-a de acordo com as necessidades, alem de proprietário de boa parte das terras: é o que se denomina cidade-templo.

Estudos recentes mostram que, além do setor da economia dos templos e do palácio, havia um setor privado que participava, também, da economia da cidade-estado.

Administradas por uma corporação de sacerdotes, as terras, que teoricamente eram dos deuses, eram entregues aos camponeses. Cada família recebia um lote de terra e devia entregar ao templo uma parte da colheita como pagamento pelo uso útil da terra. Já as propriedades particulares eram cultivadas por assalariados ou arrendatários.

Entre os sumerianos havia a escravidão, porém o número de escravos era relativamente pequeno.

Em contraste com as cheias regulares e benéficas do Nilo, o fluxo das águas dos rios Tigre e Eufrates, ao subir à Leste pelos Montes Tauro, é irregular e imprevisível, produzindo condições de seca em um ano e inundações violentas e destrutivas em outro. Para manter algum tipo de controle, fazia-se necessário a construção de açudes e canais, alem de complexa organização. A construção dessas estruturas também era dirigida pelo Estado. O controle dos rios exigia numerosíssima mão-de-obra, que o governo recrutava, organizava e controlava. As principais atividades econômicas da Mesopotâmia eram:

  • A Agricultura. Era base da Economia. A economia da Baixa Mesopotâmia, em meados do terceiro milênio a.C., baseava-se na agricultura de irrigação. Cultivavam trigo, cevada, linho, gergelim (sésamo, de onde extraiam o azeite para alimentação e iluminação), árvores frutíferas, raízes e legumes. Os instrumentos de trabalho eram rudimentares, em geral de pedra, madeira e barro. O bronze foi introduzido na segunda metade do terceiro milênio a.C., porem, a verdadeira revolução ocorreu com a sua utilização, isto já no final do segundo milênio antes da Era Cristã. Usavam o arado semeador, a grade e carros de roda;
  • A Criação de Animais. A criação de carneiros, burros, bois, gansos e patos era bastante desenvolvida;
  • O Comércio. Os comerciantes eram funcionários a serviço dos templos e do palácio. Apesar disso, podiam fazer negócios por conta própria. A situação geográfica e a pobreza de matérias primas favoreceram os empreendimentos mercantis. As caravanas de mercadores iam vender seus produtos e buscar o marfim da Índia, a madeira do Líbano, o cobre de Chipre e o estanho de Cáucaso. Exportavam tecidos de linho, e tapetes, além de pedras preciosas e perfumes. As transações comerciais eram feitas na base de troca, criando um padrão de troca inicialmente representado pela cevada e depois pelos metais que circulavam sobre as mais diversas formas, sem jamais atingir, no entanto, a forma de moeda. A existência de um comercio muito intenso deu origem a uma organização economia sólida, que realizava operações como empréstimos a juros, corretagem e sociedades em negócios. Usavam recibos, escrituras e cartas de crédito. O comercio foi uma figura importante na sociedade mesopotâmica, e o fortalecimento do grupo mercantil provocou mudanças significativas, que acabaram por influenciar na desagregação da forma de produção templário-palaciana dominante na Mesopotâmia.


As principais ciências estudadas foram:

  • A Astronomia. Entre os babilônicos, foi a principal ciência. Notáveis eram os conhecimentos dos sacerdotes no campo da astronomia, muito ligada e mesmo subordinada a astrologia. As torres dos templos serviam de observatórios astronômicos. Conheciam as diferenças entre os planetas e as estrelas e sabiam prever eclipses lunares e solares. Dividiram o ano em meses, os meses em semanas, as semanas em sete dias, os dias em doze horas, as horas em sessenta minutos e os minutos em sessenta segundos. Os elementos da astronomia elaborada pelos mesopotâmicos serviram de base à astronomia dos gregos, dos árabes e deram origem à astronomia dos europeus;
  • A Matemática. Entre os caldeus, alcançou grande progresso. As necessidades do dia-a dia levaram a um certo desenvolvimento da matemática.Os mesopotâmicos usavam um sistema matemático sexagesimal (baseado no número 60). Eles conheciam os resultados das multiplicações e divisões, raízes quadradas e raíz cúbica e equações do segundo grau. Os matemáticos indicavam os passos a serem seguidos nessas operações, através da multiplicação dos exemplos. Jamais divulgaram as formulas dessas operações, o que tornaria as repetições dos exemplos desnecessárias. Também dividiram o círculo em 360 graus, elaboraram tábuas correspondentes às tábuas dos logarítimos atuais e inventaram medidas de comprimento, superfície e capacidade de peso;
  • A Medicina. Os progressos da medicina foram grandes (catalogação das plantas medicinais, por exemplo. Assim como o direito e a matemática, a medicina estava ligada a adivinhação. Contudo, a medicina não era confundida com a simples magia. Os médicos da Mesopotâmia, cuja profissão era bastante considerada, não acreditavam que todos os males tinham origem sobrenatural, já que utilizavam medicamentos à base de plantas e faziam tratamentos cirúrgicos. Geralmente, o medico trabalhava junto com um exorcista, para expulsar os demônios, e recorria aos adivinhos, para diagnosticar os males.


Civilização e culinária mesopotâmica: Parte 4

Normalmente a história de um povo e de uma civilização é contada através dos fatos e acontecimentos de alguma forma comprováveis ou presumíveis pelos estudos das diversas ciências. No entanto, o que é pouco percebido e muitas vezes negligenciado, é o fato que a história humana – e toda a história é necessariamente humana, mesmo quando se trata do percurso histórico de coisas ou fenômenos naturais, pois tudo ou é produto da ação e engenho do homem ou é averiguado e registrado por esse engenho -, é cada vez mais minuciosa e precisamente descrita através da contribuição dos estudos e descobertas sobre as práticas e costumes dos povos.



Hoje, a compreensão mais adequada e verossímil de nosso passado encontra-se na confluência ou interdisciplinaridade de conhecimentos provenientes dos mais detalhados estudos sobre minúcias próprias das práticas cotidianas das civilizações passadas, tanto quanto é certo que os grandes feitos da história só são possíveis como conseqüência do esforço diuturno das sociedades na produção dos bens e serviços para sua sobrevivência. Ou seja, pelo estudo dos costumes e pelos hábitos de cada povo, pode-se, muitas vezes, entender melhor os grandes fatos e acontecimentos, as grandes conquistas e derrotas, as grandes catástrofes e realizações de uma civilização.



Se aprofundarmos nossos estudos sobre o passado, vamos perceber que teremos dificuldades em entender precisamente porquê um determinado acontecimento, fato ou mesmo costume aconteceu de uma forma e não de outra. A bem da verdade, aquilo que denominamos como “verdade” histórica é uma interpretação determinada por elementos e provas tão circunstanciais que sempre podemos achar outras respostas. Isto porque certos elementos e fatores nos passam despercebidos. Assim, podemos dizer, sem grande margem de erro, que a história não é apenas um amontoado de fatos cronológicos, e sua difícil precisão só pode ser amenizada se nos dedicarmos a questões sócio-econômicas e políticas inseridas na cotidianidade dos povos e civilizações passadas.



Esta coluna pretende apresentar e estudar um pouco mais das grandes civilizações através de seus costumes gastronômicos, sem se prender, necessariamente, a uma cronologia rígida que possa sugerir algum tipo de evolucionismo gastronômico, uma direção única para o desenvolvimento da arte culinária ao longo da história da humanidade. O tema que nos ocupa é “o homem e seu alimento”. A satisfação das necessidades alimentares figura entre aqueles fatores primordiais à sobrevivência da humanidade, obrigando os homens a contraírem determinadas relações econômicas de produção e desenvolverem ferramentas de trabalho capazes de satisfazer tais necessidades. Em todas as culturas, através dos tempos, os homens desenvolveram seus gostos e sua culinária numa relação direta com o meio ambiente circundante, com os recursos econômicos e naturais disponíveis, permeados pela relação mítica e mágica com o cosmos.



A revelação das formas de produção e preparo dos alimentos, bem como as formas de degustação e conservação, constituem informações preciosas e fundamentais para o entendimento de seus costumes, arte, valores comportamentais, religião, sistemas econômicos e políticos, e sua filosofia. Obviamente, a formulação de uma história gastronômica depende, tanto quanto qualquer outra ciência, de dados materiais e empíricos. Assim, por exemplo, da pré-história apenas podemos contar com escassos resíduos alimentares, lugares e utensílios usados no preparo e degustação dos alimentos, o que dificulta a compreensão de seus usos e costumes de forma mais precisa. A partir de fontes escritas - mesmo a mais remota datada do início da história -, passa-se a obter um maior e mais preciso número de informações sobre os homens inseridos em sua atividade gastronômica. Mas só a partir de 3200 a.C., na antiga Mesopotâmia, passou-se a registrar algum tipo de receita conforme entendemos hoje, com o intuito de repetir as operações culinárias e de garantir o preparar e conservar os alimentos.



Mesopotâmia (antiga Pérsia e atual região do Iraque)



O Compêndio mais antigo conhecido de receitas culinárias se encontra em uma compilação chamada de “Arte Culinária”, confeccionado por volta de 230 de nossa era, por um cozinheiro romano de nome Célio, segundo o qual baseou-se na obra de um gastrônomo de nome Marco Gavio Apicio, que viveu por volta do ano 25 a.C em Roma. Muito antes de Apicio, no entanto, existem alguns manuscritos gregos de receitas culinárias, como no caso do siracusiano Mithekos, que viveu por volta de 400 a.C., e que é citado por Platão na obra Gorgia, escrita para o rei de Siracusa. Infelizmente estas obras se perderam quase completamente e apenas algumas citações restaram na obra “O Banquete dos Sábios”, escrito por Ateneo de Naucratis, um grego que deve ter vivido entre os séculos II e III de nossa era. Mais para trás, os Egípcios, os Fenícios e os Hititas já possuíam registros gastronômicos em afrescos, pinturas e decorações em utensílios, e conhece-se algo de seus regimes alimentares, mas não se conhecem documentos escritos sobre receitas culinárias. Sobre a Mesopotâmia, no entanto, existe vasto material decifrado a partir de tábuas escritas em sumério e acádio (antigas línguas extintas da Mesopotâmia, usadas desde 3000 a.C.).



1 As fontes de alimentação

Pelo que se conhece, as principais fontes de alimentação da Mesopotâmia, consistiam em cereais, como a linhaça, mais tarde e em especial, a cevada, a partir da qual produziam cerveja; o arroz (introduzido por volta de 1500 a.C.); variados tipos de queijos (mais de 20 variedades), o que indica domínio em técnicas de fermentação de laticínios. Os embutidos são raramente mencionados (a não ser um tipo de chouriço preparado com a tripa do intestino de bode); em compensação existe abundância de peixes do mar e de rio, além de variados tipos de crustáceos e moluscos. Os peixes eram dissecados e conservados em salmoura (por volta de 2000 a.C.). As carnes também podiam ser conservadas desta forma, mas eram especialmente conservadas em barricas de óleo vegetal (oliva).



A dieta dos trabalhadores é basicamente composta de frutos naturais e secos, tais como maças, pêras, figos, ameixas, pêssegos e uvas. Verduras e legumes (poucos relatos sobre as mesmas), com os quais faziam sopas (em sumério “tu” e em acádio “ummaru”), são basicamente compostas de pepinos, tubérculos, raízes, como cebola e nabo. Na área de condimentos cultiva-se alho, alho-porró, mostarda, cominho, usados para condimentar principalmente carne de gado e em escala menor aves e galináceos, incluídos mais tarde em sua dieta. As carnes mais abundantes são, naturalmente, cabras e ovelhas, das quais se aproveita inclusive a pele e a lã. A oliveira e seu fruto, a azeitona, tem importância central na dieta e vida culinária da Mesopotâmia, não só como alimento, mas também como condimento através da produção do óleo. Temperos comuns eram os que misturavam várias ervas e raízes no óleo de oliva, e uma variedade cujo ingrediente era o mel.



Desde muito cedo as farinhas fazem parte da alimentação de toda a população (ricos e pobres). Assim, através de técnicas de moer e triturar os grãos produzia-se sêmolas e farinhas usadas em massas e pastas, conservadas secas ou fermentadas. As massas eram usadas para produzir tortas de pão, assadas em grandes vasilhas colocadas sobre as brasas de lenha. Estas vasilhas tinham um imenso número de formas, o que indica que vários tipos de pães eram confeccionados nas panificadoras da época. Os catálogos de pães conhecidos apresentam, em alguns casos, mais de 300 variedades, usando-se diversos tipos de farinhas, sendo preparadas com azeite, mel, leite, cerveja, especiarias aromatizadas, etc. Nas panificações, estabelecimentos conhecidos desde o III milênio a.C., não só se fazia o pão como também a cerveja.



2 Bebidas Alcoólicas

Do malte da cevada se obtém a cerveja, a bebida mais consumida, tanto dentro dos palácios como entre a população. Os povos da Mesopotâmia fabricavam vários tipos de cerveja, e em grandes quantidades, de tal forma que a produção de bebidas alcoólicas como o vinho (produzido nos vinhedos da Alta Mesopotâmia - norte e nordeste) e a cerveja são fundamentais na economia e sobrevivência desses povos. Os variados tipos de cerveja apontam para diferentes formas de preparo e fermentação, produzindo-se, entre outros, cerveja velha, cerveja jovem, cerveja negra, cerveja doce e cerveja fina ou fraca (provavelmente misturada com água), principalmente consumida pelas mulheres.



Tal é o consumo livre e abundante de cerveja que, igualmente, se observa nos relatos e receitas vários tipos de vasilhames e canecos para tomá-la, pitorescamente quanto ao hábito de várias pessoas beberem do mesmo vasilhame, usando para tal um tipo de canudo, que ainda tinha o benefício de evitar se ingerisse os grãos em fermentação do cereal que permaneciam no líquido, e que aumentava em muito os efeitos do álcool. Existem relatos que demonstram o uso da cerveja como meio alcoólico para remédios e tratamento de doenças. Sem dúvida, a cerveja constitui um forte fator produtivo e determinante da vida dos mesopotâmicos antigos, não só por demonstrar o conhecimento requintado de tecnologia em sua preparação, como também na utilização posterior de sua culinária, pois a mesma era usada abundantemente como ingrediente no preparo dos outros pratos.



3 Métodos de conservação de alimentos

Os métodos de conservação próprios dos povos mesopotâmicos são tão vastos que comida é raramente importada por eles. A salmoura – sal e azeite -, e o cozimento são os principais métodos de conservação para quase todos os alimentos. Essa salmoura era muitas vezes temperada com condimentos, de tal forma que servia não só de conservação como de tempero, podendo, muitas vezes, ser diretamente degustada.



O cozimento era efetuado através de “fornos de cúpula”, que amaciavam os alimentos, na medida em que o vapor do cozimento se concentrava dentro do forno, principalmente no cozimento de massas e do pão. As panelas e tachos eram ou de barro ou de bronze, existindo caldeirões usados em cozimentos lentos e de grandes quantidades. Os antropólogos acharam grande variedade de panelas e caldeirões, o que indica uma profícua e diversificada dedicação à cozinha na Mesopotâmia. Também existem teorias (não totalmente comprovadas) que cada tipo de utensílio usado no cozimento determina o tempo e a técnica de preparo e resulta em um tipo diferente de prato. Isto talvez explique porquê as receitas que chegaram até nós preservadas em pedaços de tábuas de barro, são pouco elucidativas quanto às quantidades e tempo de cozimento e preparo dos alimentos.



4 Receitas culinárias

As receitas mais antigas que se tem conhecimento datam de princípios do II milênio (1700 a.C.). Basicamente estas receitas se resumem não exatamente ao preparo, mas aos ingredientes utilizados ou solicitados pelos cozinheiros. Ao que tudo indica, entre os povos mais antigos da civilização ocidental, a forma de misturar e a seqüência do preparo dos alimentos e pratos era bastante facultativa, ficando ao livre-arbítrio do cozinheiro (uma verdadeira democracia gastronômica). Outra coisa que chama a atenção é a quantidade de ingredientes que compõem certos pratos.



4.1 Torta Mista

Ingredientes: farinha, água, leite ou cerveja, azeite, frutas secas (passas, figos, maças, pêssegos) e pinhões, condimentos aromáticos (cominho, mostarda) e alho. Pode-se acrescentar mel ou outros ingredientes que na hora o cozinheiro desejar. A torta deve ser assada no forno, e os frutos secos devem ser umedecidos em um tipo de licor (provavelmente destilado a partir do arroz). Vê-se que a preparação é sofisticada: os condimentos são em grãos torrados e a água utilizada deve ser aromatizada por infusão de mostarda natural.



4.2 Preparo de carnes

O mesmo refinamento e complexidade do preparo se verificam no cozimento de carnes, principalmente cabrito e cordeiro. O uso de ervas aromáticas em todos os pratos, demonstra a busca de sabores especiais. Também se percebe a preocupação em cozer as carnes de forma a concentrar o caldo, no sentido de acentuar os sabores e fazer a carne se impregnar deles. Não há dúvidas que os cozinheiros da antiga Mesopotâmia são refinados e procuravam ressaltar os temperos e os sabores, algo comum para os dias atuais.



Receitas impressas em tábuas de argila em língua acádia encontram-se guardadas na Universidade de Yale. Escritas por volta de 1700 a.C., referem-se a preparos culinários complexos já existentes há quase 4000 anos, e que, inicialmente, foram confundidas com receitas médicas. Apesar de sua deterioração, reconhece-se cerca de 25 receitas impressas em quatro tábuas, sendo que 21 delas são de preparo de carnes e as outras quatro de verduras. São menções curtas e revelam apenas o essencial, como é próprio dos grandes livros de cozinha mais recentes (Guide Culinaire de A. Escoffier), assinalando-se apenas os ingredientes e as operações de forma sumária e mesmo lacônica, em tom jovial e alegre como é de praxe nas cozinhas e cursos atuais. Isto, impressionantemente, coloca os chefs babilônios, sumérios e assírios, como fundadores de técnicas e ambientes gastronômicos que se revelam atuais. Podemos afirmar que a arte culinária produz relevantemente um certo ambiente artístico, com características distintas há mais de quatro milênios e que as formas e as técnicas gastronômicas mais atuais são um espelho destes ambientes?! Existe uma essência gastronômica que já estava compreendida por nossos mais antigos gastrônomos?



4.2.1 Carne cozida

Ferve-se a água. Acrescenta-se a gordura (de animal), alhos-porró e alhos macerados e cerveja ao natural. Acrescenta-se a carne e deixa-se cozer.



4.2.2 “Dobradinha” Vermelha

Não leva carne, apenas vísceras, bucho e miúdos. Sal, malte de cevada, cebolas, cerveja velha, cominho, azeite, alho-porró, e cerveja negra - macerados juntos. As “carnes” devem ficar de molho no sangue do próprio animal, antes de serem colocadas para cozer junto com os temperos em um caldeirão de fundo redondo e tubular. Não foram descritos as quantidades nem o tempo de cozimento.



4.2.3 Fervido de cabrito

Cabeça, patas e rabo devem ser passados no fogo previamente. Usa-se um caldeirão de água fervendo. Acrescenta-se a gordura. Tempero de cebola, cerveja natural, alho-porró, alho, sangue, queijo fresco – tudo macerado junto. Mais cerveja natural depois de um certo tempo. Para engrossar o caldo pode-se juntar farinha de cereais numa segunda etapa do cozimento, com pouca água, evidentemente para engrossar o caldo.



4.2.4 Preparo de aves

Primeiro as aves: cortam-se a cabeça e as patas; são abertas e se tiram as entranhas, aproveitando-se as moelas e as vísceras, depois de limpas. As aves são lavadas e enxugadas. Então se prepara um caldeirão, onde são colocadas juntas as aves, as moelas e as vísceras e se põe para cozinhar (não existe menção de qualquer líquido, como água ou gordura). Depois desta primeira exposição ao fogo se retira o caldeirão. Então o cozimento continua em uma segunda etapa: uma outra panela é enxaguada, coloca-se leite e se coloca no fogo. Retiram-se as aves do primeiro cozimento, se escorre seu caldo, salga-se e coloca-se na segunda panela quando o leite estiver gorduroso. Quando estiver na hora de servir se junta o acompanhamento que foi preparado e fervido em outra panela: alho-porró, alho, cerveja e cebolas e com um pouco de água. Em paralelo, confecciona-se uma massa que é composta por trigo amassado, misturado com leite, condimentada com sal e cominho amassados junto, pouco de cerveja nova, alho-porró, alho e acrescentando azeite até estar pronta uma massa bastante fina. Esta massa é na verdade cozida dentro de um prato (de barro) colocado sobre o fogo. Quando a massa está cozida, colocam-se em cima as aves e os miúdos junto com o molho de cebolas e demais temperos usados. Tudo é regado com salsa e tapa-se tudo com outra fatia de massa cozida antes de servir à mesa.



Para finalizar, também deve ser observado que as receitas expostas nas tábuas culinárias encontradas, são diferenciadas por pratos, com nome e com algumas variações de tipos de carnes e apresentação, como servido com ou sem caldo, com ou sem salsa, distinguindo a carne principal – cordeiro, borrego ou mesmo codorna e pombo selvagem -, ou partes destes, como perna de cabrito ou ovelha, e ainda com a indicação de “pode ser dividido” ou “cortado em pedaços”.



5 Gastronomia e Poder

Fica bem claro que os povos da antiga Mesopotâmia tinham uma estrutura gastronômica bem organizada para a preparação e apresentação dos alimentos, com técnicas complexas e elaboradas. Tanto que podem ser comparados aos antigos romanos e aos chineses, mas com pelo menos quinze séculos de antecedência. Os gastrônomos mesopotâmicos podem ser considerados os mais antigos artistas culinários. E é óbvio que devido às fontes limitadas a variedade de alimentos e modos de conservação e preparo sejam muito mais abrangentes do que conhecemos.



Por outro lado, devemos considerar que se algumas receitas foram registradas e relatadas em diversos lugares, é porque tais “documentos” foram obra de uma minoria que sabia ler e escrever naquele tempo: os escribas. Acontece que estes profissionais, os únicos que sabiam ler e escrever, eram muito importantes e só trabalhavam para clientes influentes e importantes, representantes do poder. Não existe, desta forma, nenhum motivo para os escribas se dedicarem a fazerem registros detalhados e numerosos de receitas culinárias - o que não podia ser efetuado pelos cozinheiros da época -, a não ser quando solicitado e pagos por esses senhores ricos e poderosos. Por isso, podemos imaginar que o interesse da nobreza da época em pagar para terem tais registros deve-se ao controle e inventário da produção de alimentos em suas propriedades e cozinhas. As tábuas encontradas e que nos servem de orientação para nossos estudos “antropo-gastronômicos”, são na verdade registros administrativos, por um lado, e, presumivelmente, orientações normativas para os cozinheiros no preparo dos alimentos, por outro.



Então, seguramente, este tipo de culinária pertencia ao Templo e ao Palácio, com ingredientes em sua maioria caros e refinados que não estavam ao alcance da maioria da população. A cozinha assim retratada, não é uma cozinha popular, praticada pelos campesinos e artesãos (existem algumas informações sobre o pagamento de trabalhadores com alimentos básicos, como cereais, azeite, cerveja, e raramente, carne e pescado – verduras, frutas e especiarias as obtinham por sua conta). Ela é uma “alta cozinha”, reservada aos dirigentes, clérigos e poderosos. Sobre a cozinha popular que para nós, e do ponto de vista cultural, é tão preciosa e rica, não se conhece nada, pois neste caso, as mulheres, cozinheiras familiares, passavam suas receitas e técnicas de forma oral de mãe para filha, geração após geração. O fato é que a culinária atual denominada “turco-árabe”, e que se come desde a Grécia até o Iraque, já é uma adaptação de séculos e do convívio entre os povos desta vasta região, mas também um sincretismo entre os pratos mais refinados e os costumes alimentares do povo da antiga Mesopotâmia, desde 4000 anos atrás.



Finalmente cabe anotar que, ao que tudo indica, a população de forma geral comia duas vezes por dia, de manhã e à tarde, esta última a principal, ao crepúsculo, como era o hábito dos sumérios cuja palavra para comida é a mesma para entardecer (king.sig – kinsikku). A classe alta tinha outras duas refeições adicionais menos abundantes. Afinal, a variedade de alimentos na antiga Mesopotâmia fez estes povos contentarem-se com seus produtos regionais e a desenvolverem uma criativa culinária baseada em técnicas que os colocaram entre os mais originais fundadores da Arte Gastronômica.

Religiões mesopotâmicas: Parte 3

1. Religião astral

Segundo Winckler, religião na Antiga Mesopotâmia provavelmente surgiu da contemplação das estrelas e dos planetas e suas movimentações no firmamento, portanto contendo um forte elemento de mitologia astral, baseada em teoria desenvolvida por estudiosos sumérios, postulando que os poderes divinos estavam representados nos planetas e nas estrelas, e que tais poderes superiores deveriam ser seguidos pela hierarquia de poderes na terra. Os fenômenos astronômicos eram os únicos considerados constantes e bem definidos, portanto, eternos por sua natureza. Os deuses e deusas são antropomórficos, e os corpos celestes, freqüentemente associados a divindades específicas, são uma revelação parcial do poder Divino em sua manifestação material, poder Divino que age de acordo com normas e e eventos constantes. Dos céus, que são a manifestação mais clara dos deuses e deusas, esta ordem divina podia ser seguida e observada em graduações constantes, que também se manifestavam no plano da existência humana, especificamente as realidades políticas e sociais. O estudo e observação dos astros fazia com que também se obtivesse uma melhor visão das forças atuando sobre as mais diversas esferas da existência. Em suma, a expressão literária Das Grandes Alturas às Grandes Profundezas pode bem ser a versão mesopotâmica da máxima hermética posterior "Assim na Terra como no Céu".

2. O Cosmo como o Estado

Os antigos mesopotâmicos cresceram num ambiente árido e difícil. Encontramos na religião mesopotâmica de forma marcante a constância dos ritmos cósmicos, como a mudança das estações, o movimento das estrelas nos céus, etc. junto com um elemento de força e violência. Os rios Tigres e Eufrates podem ser subir de forma imprevisível e violenta, prejudicando diques e afogando as plantações. A região estava frequentemente sujeita a tempestades de ventos, que ameaçavam sufocar os seres vivos. Havia também chuvas torrenciais que tornavam a terra firme num mar de lama, portanto roubando a liberdade de movimento . Na Mesopotâmia, a Natureza não era plácida e serena, mas um conjunto de poderes que controlavam a vida e a morte.

Os Mesopotâmicos, portanto, contemplavam as fontes de poder com admiração, respeito, reverência e medo. Sozinho frente a esta natureza hostil e poderosa, a noção do quão fraco ou fraca ele ou ela o eram na realidade, se comparados com os poderes da natureza, deveria ser uma constante. Entretanto, eles também tinham consciência através dos mitos da Criação de que a humanidade havia sido criada para continuar os trabalhos da existência para os deuses e deusas, e portanto tinham fé na ordem cósmica, cujos desígnios lhes eram também insondáveis, mas que guiavam toda criação. Colocando esta noção fundamental em termos mais simples, os Mesopotâmicos viam a ordem cósmica como uma ordem the vontages - como um Estado.

Esta forma de ver o mundo parece ter-se formado no momento em que a Mesopotâmia começa a surgir como civilização, ou seja, no período de antes do começo da história escrita, ou período Proto-Histórico. Por milhares de anos, migrações entraram e se estabeleceram no Vale dos Dois Rios, uma cultura pré-histórica seguindo-se por outra - todas fundamentalmente semelhantes. Mas com o advento do período da proto-história, cerca de metade do quanto milênio-começo do terceiro milênio antes da nossa era, começa a se cristalizar a civilização mesopotâmica.

Esta mudança fundamental foi provavelmente possibilitada pelo surgimento da agricultura em larga escala, com o uso de irrigação. Esta era feita por meio de canais, uma forma que ira mudar para sempre as características da agricultura mesopotâmica. Ao mesmo tempo e como consequência da boa prática agrícola, aumenta a população da região. As vilas se expandiram em cidades, o poder político passa a ser exercido por uma assembléia geral, feita de homens adultos e livres. Esta é a primeira organização de poder coletivo, ou Democracia Primitiva. Em mitos, esta realidade é descrita como "as cestas construíram as cidades", ou seja, o excesso das colheitas levou à formação dos primeiros centros urbanos. Os homens livres da assembléia escolhiam o rei para governar as cidades em tempos de crise. Passada a crise, o poder voltava à assembléia.

A centralização da autoridade e o novo modelo político podem ter sido responsáveis pela emergência da monumental arquitetura mesopotâmica. Templos começaram a ser erguidos nas planícies, em geral construídos sobre montanhas artificiais de tijolos secados ao sol, os famosos zigurates. Obras de tais proporções pressupõe um grau de organização dentro da comunidade só então atingido.

No plano intelectual/espiritual, a escrita cuneiforme foi inventada, primeiramente servindo como elemento contábil das oferendas feitas aos templos, mas logo evoluindo para veículo literário. Esta arte então floreceu, trazendo o imenso legado dos Épicos de Gilgamesh, Lugalbanda, etc.

Em termos políticos, econômicos e nas artes, a Mesopotâmia encontrou já em seus tempos mais remotos de existência as formas através das quais podia entender e lidar com seu universo em diversos planos de manifestação. O estado cósmico portanto manifestou-se bastante cedo, como uma Democracia Primitiva e se seguiu para o modelo centralizado de poder.

3. Mesopotâmicos e o Fenômeno da Natureza

Os Mesopotâmicos acreditavam que os fenômenos do muito ao seu redor eram animados, vivos, que os poderes e a natureza tinham personificação divina. Tais fenômenos não eram humanos, mas possuíam vontade e personalidade. A religião portanto era politeísta e panteísta. Portanto, para entnder a natureza e seus variados fenômenos, os Mesopotâmicos procuravam entender a vontade, a personalidade, a direção e manifestação desta variedade de poderes.

4. A Assembléia dos Deuses e Deusas

Para os mesopotâmicos o mundo físico era representado pelos seres vivos e por todas as criaturas, bem como os seres inanimados e os fenômenos naturais. As noções de certo e errado, justiça, bem-viver, etc. eram aplicadas a todos, dependendo do escopo da existência. Portanto, todos estavam sujeitos a uma hierarquia de poderes maiores, representados pelos deuses e deusas, que julgavam e deliberavam sobre todos os assuntos que regiam este mesmo universo.

Os grandes deuses compreendem os Poderes do Céu e da Terra, chamados de Igigi e Anunaki. O líder da Assembléia era Anu, o deus do Firmamento, e a seu lado estavam Enlil, Deus do Ar, Enki, deus das Águas Doces, Sabedoria e Mágica e Ninhursag, a Grande Mãe.

A Assembleia funcionava da seguinte forma: os assuntos eram apresentados na presença de todos os deuses, que então "perguntavam uns aos outros", ou seja, discutiam o problema. Temas eram então esclarecidos e o consenso então começava a ser formado. Desta forma, conseguia-se chegar a um consenso. A última palavra cabia a Anu ou Enlil. An/Anu era portanto a imagem da autoridade, e Enlil, a imagem da força.

5. Religão na Prática: Exemplo dos Sumérios

5.1 O Panteão Sumério

O panteão de deuses dos Sumérios não era simples. Havia muitos componentes para identificar um deus: fatores naturais, políticos, culturais e familiares. Em parte, os deuses representavam o poder que se sentia no universo. Os deuses ordenavam, regulavam e controlavam os elementos naturais: céu, o sol, a lua, as tempestades e estrelas. Desta forma, todos os aspectos do cosmo que tinham algum significado para a vida dos humanos eram supervisionados e determinados. Por causa da supervisão dos deuses, o mundo não era caótico. Aqueles mesmos deuses que controlavam a natureza também supervisionavam a polis. Cada cidade-estado da antiga Suméria tinha seu próprio panteão, liderado pelo deus ou deusa patrono(a) daquela cidade. O deus-sol Utu era o deus de Sippar, o deus da Lua Nanna era o deus de Ur, e assim por diante. Estes deuses detinham a patronagem e os cuidados de suas respectivas cidades, e eram celebrados nos cultos locais destas cidades. Nos primeiros períodos históricos da Suméria, o deus ou deusa (através de seus representantes do templo) era provavelmente o maior proprietário de terras e maior empregador da cidade, sendo que a adoração do(a) deus(a) era uma forma efetiva, dotada de significado para mobilizar a comunidade. Ao longo de toda história dos sumérios, o deus da cidade, acreditava-se, cuidava da prosperidade e bem-estar locais, assegurava a paz e prosperidade, além de manter uma relação especial com o governante local. Este conceito de deus-local ou da cidade expressava um sentido de comunidade, tal qual um todo orgânico. A cidade não era apenas um conjunto acidental de pessoas que viviam num mesmo local. Ela era, acima de tudo, uma entidade que tinha unidade, integridade, e poder - um local onde o divino poderia se estabelecer.

5.2 Deus Pessoal

Outro eixo de identidade divina era o do "deus pessoal". Cada família entendia-se estar sob a patronagem de um deus ou deusa específicos, que protegia os membros da família, ajudando a assegurar a saúde, a prosperidade e o sucesso. Além do mais, cada indivíduo, não importando quão importante ou não fosse, tinha seu deus ou sua deusa. A classificação destes deuses pessoais no panteão era comparável à importância do indivíduo. Pessoas comuns tinham deuses cujos nomes eles o sabiam, mas que raramente chegaram até nós. Os poderosos da Suméria tinham os grandes deuses cósmicos como seus deuses pessoais.

5.3 Deuses e deusas locais

Tendo em vista que as cidades-estado não eram isoladas umas das outras, os deuses de várias cidades-estado tinham de Ter alguma relação entre si. Ao longo do primeiro milênio de história registrada, havia duas forças contrárias na Mesopotâmia: uma, lealdade à sua cidade, e a rivalidade entre cidades que tal fato produzia, e, por outro lado, uma motivação pela paz através da confederação com governos nacionais. Houveram tais períodos de unificação regional como o Período Sargônido ( o Período Acádio, cerca de 2100-2000 Antes da Nossa Era ou 4000 anos atrás); houveram períodos de domínio local, como os de Isin-Larsa ( o Período Antigo Babilônico Anterior, cerca de 2000-1800 Antes da Nossa Era). Estes períodos históricos estabeleceram-se e se foram, e o poder relativo dos deuses das cidades Mesopotâmicas subiu e desceu com eles. Os deuses tinham relações harmoniosas entre si; os deuses identificavam-se uns com os outros e/ou estabeleciam relações familiares entre si. Teologias rivais se desenvolveram, tais como aquelas ao redor de Enlil e Enki, mas então mais tarde harmonizaram-se entre si na criação de um panteão nacional.

Há ainda um outro fator que aumenta a complexidade do panteão mesopotâmico. Dois povos distintos viviam no sul do Iraque deste o início da história: os sumérios e os acádios. Tanto quanto podemos constatar, não existiam conflitos étnicos entre eles. Sumérios e acádios também não possuíam culturas separadas. Apesar do fato destes povos falarem idiomas bastante diferentes, os falantes de acádio participavam integralmente do que chamamos de civilização suméria. Várias pistas lingüísticas indicam de forma bastante conclusiva que a escrita foi desenvolvida para escrever sumério. Mas a escrita não era propriedade exclusiva dos povos que falavam sumério. As tábuas de Abu Salabikh, escritas em sumério logo após o alvorecer da escrita, foram freqüentemente inscritas por povos que se assinavam com nomes obviamente acádios. Ao mesmo tempo, o povo de Ebla, na Síria Central, que também falava um idioma semítico, escrevia também belíssimas tábuas de argila em sumério. Pelos primórdios da história registrada, já havia uma quantidade considerável de miscigenação cultural ou sincretismo entre os semitas (acádios e sumérios).

À medida em que a história progride, a relação entre os semitas e os sumérios torna-se mais complicada. A primeira unificação bem sucedida das cidades do Sul da Mesopotâmia (da qual se sabe) foi por Sargão, rei da Acádia, em cerca de 2350 BCE. As inscrições reais the Sargão são todas em acádio (nossa primeira literatura em acádio), but durante seu reinado, Enheduanna, a filha de Sargão e sacerdotisa-princesa de Ur, compôs hinos extensos e muito lindos em Sumério. O grande florescimento da literatura suméria ocorreu no que chamamos de Período Neo-Sumério, o tempo dos reis da Terceira Dinastia de Ur (cerca de 2111-2000 BCE), e dos reis das dinastias de Isin e Larsa que se seguiram (Período Babilônico Anterior). Sabe-se, porém, por um farto corpo de evidência que mostram que os povos do Período da Terceira Dinastia de Ur não falavam mais sumério. Este grande florescimento foi acontecendo enquanto que o idioma sumério se transformava numa linguagem erudita, posição em que se manteve mesmo apesar da maior parte da literatura religiosa ser escrita em acádio. Ao redor do Período Babilônico Antigo, estava-se desenvolvendo uma literatura acádia mas assim mesmo, os textos religiosos sumérios eram não só copiados e estudados, como também compostos.

Pelo começo do Segundo Milênio, um novo elemento étnico entra em ação. Uma grande e extensa migração dos semitas ocidentais, povos da região da Séria, Líbano e Israel, imigraram para Mesopotâmia, sendo absorvidos. Alguns destes povos tornaram-se as dinastias regentes das maiores cidades do Sul. Os textos religiosos escritos nesta época (chamado de Período Antigo Babilônico Anterior) em qualquer língua que tenham sido escritos, estão inseridos na Tradição Mesopotâmica, mas são, entretanto, uma mistura de idéias (Velho Acádio ou Sumério), que foram trazidos pelos semitas ocidentais.

Além destes fatores históricos e étnicos, o panteão mudava constantemente em resposta a diferentes sistemas econômicos e novas realidades sócio-econômicas. Tudo isto contribui para um panteão rico e variado, tão fascinante quanto assombroso. Naturalmente, este panteão também torna-se um pouco confuso para nós que não estamos familiarizados com tal infinidade de poderes. Mesmo os próprios Mesopotâmicos sentiram a necessidade de dar alguma certa ordem a esta assembléia de deuses. Já nos primeiros períodos da escrita suméria, em Abu Salabikh, fica claro que os escribas (teólogos) da antiga Suméria sentiram-se compelidos a colocar os deuses dentro de um certo sistema. Um destes textos muito antigos de Abu Salabikh é uma lista de deuses. A lista de deuses coloca o grande conjunto de divindades numa relação compreensível e intelectualmente sofisticada entre as partes envolvidas. Esta tarefa de compilação de listas de deuses continuou ao longo the toda história da Mesopotâmia, culminando com a grande lista de An-anun, cuja edição moderna ainda está sendo preparada.

5.4 Equilíbrio de gênero e sexo: Mundo de Deusas e Deuses

O complexo panteão dos sumérios, de imediato, divide-se em duas categorias facilmente reconhecíveis: deuses e deusas. A adoração de deusas não constituía uma religião separada, sendo que deusas e deuses faziam parte integral do pensamento e da religião dos sumérios. As histórias sobre as deusas não vêm de um culto feminino separatista e não são fantasias femininas ou mitos feitos por mulheres apenas. Estas histórias provém da principal literatura existente, da cultura prevalecente na Suméria. Os autores da maior parte destas composições, tanto homens quanto mulheres, são anônimos; mas os primeiros grandes poemas sumérios foram escritos por uma mulher, Enheduanna, que foi tanto uma sacerdotisa (EN) do deus Nanna na cidade de Ur, e princesa real, filha do rei Sargão, o Acádio. Ela foi o equivalente a Shakespeare da literatura suméria no sentido de que suas lindas composições foram estudadas, copiadas e recitadas por mais de meio milênio após sua morte. Estes poemas não eram compartilhados apenas com mulheres da antiga Suméria. Pelo contrário, conhecemos estes poemas, bem como a maior parte da literatura dos antigos sumérios de cópias que foram feitas por estudantes das antigas escolas sumérias. A maioria destes estudantes eram homens. Os poemas de Enheduanna e outros mitos e hinos sobre deusas cujos autores (homens e mulheres) são desconhecidos, eram parte do currículo destas escolas, estudados e ensinados por homens. Homens e mulheres discutiam e adoravam as deusas da antiga Suméria. Note que eu falei de equilíbrio de gênero e sexo em termos da presença de deuses e deusas. Eu não falei de igualdade de forças, que provavelmente jamais existiu em tempos históricos.

Este panteão composto de dois gêneros espelha a dualidade da natureza, nas quais os seres humanos e outros animais, e até mesmo algumas plantas, ocorrem como masculino e feminino. Em alguns casos, o sexo de um deus não faz grande diferença para sua função. No controle de suas cidades, as deusas e os deuses desempenham papéis equivalentes. Uma cidade poderia Ter como patrono um deus ou uma deusa. Na maior parte das vezes, esta divindade também tinha um (a) esposo (a) que era menos importante para o bem-estar da cidade do que a própria divindade. Não era sempre o parceiro a divindade mais importante. Qualquer configuração era possível: a deusa podia ser a maior divindade, com o seu esposo ou consorte de menor importância do que ela; o deus poderia ser a divindade principal, com a esposa secundária a ele.

Entretanto, no mais conceitual dos domínios, a divisão de sexos no mundo divino dos sumérios não era acidental. O sexo de um deus ou deusa era fundamental para a definir o papel do deus ou deusa no imaginário das pessoas. Deuses e deusas não são intercambiáveis, ou sjea, o deus Enlil não poderia ser a deusa Ninlil, sua esposa. A deusa Inana não poderia ser o deus Utu, seu irmão. A feminilidade de uma deusa é essencial. Veremos nos capítulos que seguem que o pensamento sumério compreendia quatro domínios fundamentais: sociedade, cultura, natureza e história. Em cada um destes domínios, as deusas desempenhavam um papel que era essencialmente feminino. Como veremos, as deusas definem a ser mulher na família, cultura, cosmo e polis. As histórias criam um panorama orgânico do significado e complexidade do que o conceito ser mulher poderia Ter sido neste antigo sistema de pensamento. Elas também revelam a importância da dicotomia homem-mulher no pensamento politeísta.

Povos da Mesopotâmia: Parte 2

história da mesopotâmia : zigurate
Modelo de um Zigurate

Introdução
A palavra mesopotâmia tem origem grega e significa " terra entre rios". Essa região localiza-se entre os rios Tigre e Eufrates no Oriente Médio, onde atualmente é o Iraque. Esta civilização é considerada uma das mais antigas da história.



Vários povos antigos habitaram essa região entre os séculos V e I a.C. Entre estes povos, podemos destacar : babilônicos, assírios, sumérios, caldeus, amoritas e acádios. Vale dizer que os povos da antiguidade buscavam regiões férteis, próximas a rios, para desenvolverem suas comunidades. Dentro desta perspectiva, a região da mesopotâmia era uma excelente opção, pois garantia a população: água para consumo, rios para pescar e via de transporte pelos rios. Outro benefício oferecido pelos rios eram as cheias que fertilizavam as margens, garantindo um ótimo local para a agricultura.
No geral, eram povos politeístas, pois acreditavam em vários deuses ligados à natureza. No que se refere à política, tinham uma forma de organização baseada na centralização de poder, onde apenas uma pessoa ( imperador ou rei ) comandava tudo. A economia destes povos era baseada na agricultura e no comércio nômade de caravanas.

Sumérios
Este povo destacou-se na construção de um complexo sistema de controle da água dos rios. Construíram canais de irrigação, barragens e diques. A armazenagem da água era de fundamental importância para a sobrevivência das comunidades. Uma grande contribuição dos sumérios foi o desenvolvimento da escrita cuneiforme, por volta de 4000 a.C. Usavam placas de barro, onde cunhavam esta escrita. Muito do que sabemos hoje sobre este período da história, devemos as placas de argila com registros cotidianos, administrativos, econômicos e políticos da época.
Os sumérios, excelentes arquitetos e construtores, desenvolveram os zigurates. Estas construções eram em formato de pirâmides e serviam como locais de armazenagem de produtos agrícolas e também como templos religiosos. Construíram várias cidades importantes como, por exemplo: Ur, Nipur, Lagash e Eridu.

história da escrita
Placa de argila com escrita cuneiforme

Babilônios
Este povo construiu suas cidades nas margens do rio Eufrates. Foram responsáveis por um dos primeiros códigos de leis que temos conhecimento. Baseando-se nas Leis de Talião ( " olho por olho, dente por dente " ), o imperador de legislador Hamurabi desenvolveu um conjunto de leis para poder organizar e controlar a sociedade. De acordo com o Código de Hamurabi, todo criminoso deveria ser punido de uma forma proporcional ao delito cometido.
Os babilônios também desenvolveram um rico e preciso calendário, cujo objetivo principal era conhecer mais sobre as cheias do rio Eufrates e também obter melhores condições para o desenvolvimento da agricultura. Excelentes observadores dos astros e com grande conhecimento de astronomia, desenvolveram um preciso relógio de sol.
Além de Hamurabi, um outro imperador que se tornou conhecido por sua administração foi Nabucodonosor, responsável pela construção dos Jardins suspensos da Babilônia ( que fez para satisfazer sua esposa) e a Torre de Babel. Sob seu comando, os babilônios chegaram a conquistar o povo hebreu e a cidade de Jerusalém.

Assírios
Este povo destacou-se pela organização e desenvolvimento de uma cultura militar. Encaravam a guerra como uma das principais formas de conquistar poder e desenvolver a sociedade. Eram extremamente cruéis com os povos inimigos que conquistavam. Impunham aos vencidos, castigos e crueldades como uma forma de manter respeito e espalhar o medo entre os outros povos. Com estas atitudes, tiveram que enfrentar uma série de revoltas populares nas regiões que conquistavam.

A Mesopotâmia: Parte 1

Entre a Ásia, a África e Europa, uma região fertilizada pelas inundações periódicas de dois grandes rios viveu muitos povos que foram obrigados a desenvolver obras de engenharia. Para coordenar sua realização surgiu o Estado. Essa região foi chamada Mesopotâmia e dominada, sucessivamente pelos sumérios, acádios, amoritas, assírios e caldeus.

Os sumérios fixaram-se no sul da Mesopotâmia em 3500 a.C. Agricultores e criadores de gado desenvolveram a escrita cuneiforme e os veículos sobre rodas.

Em 2300 a.C., os acádios dominaram os sumérios graças ao uso do arco e flecha, mas trezentos anos depois foram dominados pelos amoritas (antigos babilônicos), cuja principal criação foi os primeiros códigos de leis escritos da História ---- o Código de Hamurabi.

No século VIII a.C., os amoritas foram dominados pelos assírios, que haviam desenvolvido um poderoso exército usando armas de ferro, carros de combate e aríetes. Além da Mesopotâmia, dominaram a Síria, Fenícia, Palestina e Egito. Em 612 a.C., foram vencidos por uma aliança entre caldeus e medos.

Os caldeus (novos babilônicos) reconstruíram a Babilônia, mas sua dominação durou pouco: em 539 a.C. foram vencidos pelos persas de Ciro, o Grande, que libertou os judeus do cativeiro da Babilônia.

A economia da Mesopotâmia baseava-se principalmente na agricultura, mas os povos da região desenvolveram também a criação de gado, o artesanato, a mineração e um ativo comércio à base de trocas que se estendia à Ásia menor, ao Egito e à Índia.

Sua organização social formava uma pirâmide que tinha no topo os membros da família real, nobres, sacerdotes e militares. A base era composta por artesões, camponeses e escravos.

A religião era politeísta e os deuses antropomórficos. Destaca-se o deus do Sol, Shamach; Enlil, deus do vento e das chuvas; e Ishtar, a deusa do amor e da fecundidade.

Não acreditavam na vida após morte e não se preocupavam com os mortos, mas acreditavam em demônios, gênios, espíritos bons, magias e adivinhações. A importância que atribuíam aos astros levou-os a criar o zodíaco e os primeiros horóscopos.




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